Gastronomia. Quem deixou os cuscos em Trás-os-Montes?
“Isto é deitar água e depois, com as mãos, sempre a torcer”, diz dona Maria de Lurdes, enquanto demonstra, repetindo os gestos que se fazem nesta região de Trás-os-Montes há séculos e que quase estiveram em risco de se perder. Estamos aqui para ouvir a história dos cuscos transmontanos, esse produto praticamente desconhecido no resto do país e que nos liga ao Norte de África sem que tenhamos, para já, conseguido traçar a sua história completa ao longo do tempo. Maria de Lurdes Diegues é da aldeia de Paçó, concelho de Vinhais, e há quinze anos que vende os cuscos na feira. Mas, nos últimos tempos, depois de esta tradição alimentar ter despertado a curiosidade de alguns investigadores, a procura é cada vez maior e ela não tem mãos a medir — literalmente, porque este é um trabalho de mãos, e, sobretudo de braços. Debruçada sobre a masseira, deixa água morna com sal na farinha, delicadamente, usando uma vassoura feita de ervas selvagens — “chamam-lhe mata pulga, é da família do linho” — porque é esta a melhor forma de dosear a “água, que, presa nos ramos fininhos da planta, cai “pinguinha a pinguinha”.
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Por: Alexandra Prada Coelho