Num tempo em que Bragança ainda não se chamava assim, já lá havia o castelo de Bemquerença onde vivia com o senhor desse castelo uma linda princesa órfã, sua sobrinha.
A princesa apaixonou-se por um nobre e valente cavaleiro que também gostava muito dela. Este cavaleiro, porém, pertencia a uma família pobre e sabia que nessas condições não podia aspirar a casar com a princesa; por isso decidiu partir em busca de fortuna noutras paragens, prometendo-lhe só voltar quando se sentisse digno de a poder pedir em casamento ao seu tio.
Passaram-se anos com a princesa à espera do seu cavaleiro e recusando todas as propostas de casamento que lhe apareceram.
Farto desta situação, o seu tio decidiu casá-la com um nobre, seu amigo e muito rico.
Quando o tio apresentou à sobrinha o pretendente, ela imediatamente lhe disse que o seu coração pertencia a outro que havia de voltar um dia, o que deixou o tio e o seu amigo furiosos.
Mas, logo o seu tio pensou numa solução para a obrigar a casar e, para isso, durante a noite disfarçou-se de fantasma e entrou nos aposentos da sobrinha por uma das duas portas que estes tinham, assustando-a e dizendo-lhe que caso ela não casasse com o amigo do seu tio sofreria durante toda a vida enormes desgraças e toda a espécie de tormentos.
A princesa, naturalmente aterrorizada, estava quase a prometer ao fantasma que casaria com o amigo do tio quando a outra porta do quarto se abriu.
Por essa porta, apesar de ser de noite, entrou um raio de sol que iluminou o falso fantasma e denunciou a mentira do tio da princesa.
A partir de então a princesa nunca mais foi obrigada a quebrar a sua promessa e passou a viver recolhida na torre que ficou para sempre lembrada como a Torre da Princesa e aquelas duas portas ficaram a ser conhecidas pela Porta da Traição e a Porta do Sol.
Fonte: Portugal de Lés a Lés